Cotidiano
Localizada no 'meio do caminho', Capital é importante rota para exportação de cocaína
Droga que passa pela cidade é produzida na Bolívia, e portos de Paranaguá e de Santos são principais caminhos para outros países
CORREIO DO ESTADO / DAIANY ALBUQUERQUE E MARIANA MOREIRA
Não é de hoje que Campo Grande passou a ser uma das rotas conhecidas do tráfico de drogas, mas nos últimos anos houve uma intensificação do uso desse caminho.
Segundo forças policiais especializadas no combate ao narcotráfico, isso se deve pela localização da Capital, que fica entre a Bolívia, onde os alucinógenos são feitos, e o seu destino final, que são portos e aeroportos do País.
Conforme o diretor do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), Wagner Ferreira da Silva, a cocaína que passa por Mato Grosso do Sul vem da Bolívia, um dos grandes centros produtores da droga no mundo. Para entrar no Estado, ela pode fazer várias rotas.
“Ela pode entrar pela fronteira com o Paraguai ou pelo Pantanal sul-mato-grossense ou pelo Pantanal mato-grossense. Daí, parte [da droga] vai ser para consumo interno nos grandes centros – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais –, mas grande parte vai para os portos de Santos e de Paranaguá e para aeroportos, com destino a outros países”, explicou Silva, que comanda a força especializada de combate ao tráfico de drogas de Mato Grosso do Sul.
A opção por fazer essa droga ser distribuída por meio das rodovias veio a partir de 2020, quando a Força Aérea Brasileira (FAB) inaugurou, em agosto daquele ano, em Corumbá, uma estação de radares que controla o espaço aéreo da fronteira entre Mato Grosso do Sul e a Bolívia.
O mesmo foi feito em Porto Murtinho e em Ponta Porã, dificultando, assim, a entrada de aviões clandestinos no território nacional.
“Desde que o governo federal instalou os radares em Corumbá, Porto Murtinho e Ponta Porã, os traficantes foram obrigados a fazer uma modificação no modal aéreo de drogas. Com isso, houve mudança do crime, usando mais o modal terrestre ou usando Ponta Porã como entreposto”, afirmou o comandante do DOF.
Um exemplo da utilização de Campo Grande como rota de passagem para essas drogas foi a apreensão de mais de 326 kg de cocaína feita ontem pelo Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
De acordo com a delegada titular do Dracco, Ana Cláudia Medina, a droga tinha como destino outros países. Fora do Brasil, a cocaína chega a ser comercializada a R$ 130 mil o quilo do entorpecente. Ou seja, os 326 kg apreendidos nesta quarta se transformariam em R$ 42,3 milhões nas mãos dos traficantes.
“Por isso que 80% da cocaína que entra em Mato Grosso do Sul, que é de origem boliviana, tem como destino outros países, principalmente da Europa”, exemplificou Wagner Ferreira da Silva.
Outro fator que também tem contribuído para que a droga seja cada vez mais apreendida na Capital, de acordo com o especialista em combate ao narcotráfico, seria um maior investimento de MS em segurança e em combate ao tráfico.
“Esse aumento deve-se ao grande esforço que o Estado fez na ampliação da capacidade de repressão e de investigação e na qualificação dos servidores. Temos 11 bases no interior [de combate ao tráfico de drogas], o que nos deu uma melhor expertise de repressão”, analisou o comandante do DOF.
PRISÕES
A apreensão dos 326 kg de cocaína feita ontem pelo Dracco resultou na prisão de dois homens envolvidos no transporte da droga.
Conforme o Dracco, em meio a uma abordagem, o motorista de um veículo que transportava placas de energia solar apresentou nervosismo e deu versões contraditórias sobre o propósito da viagem, o que acarretou na inspeção veicular, na qual foi identificado um fundo falso na carroceria do caminhão.
Nesse momento, o motorista admitiu o transporte da cocaína. Do mesmo modo, outro homem foi preso na operação.
O motorista, de 34 anos, afirmou que pegou o caminhão carregado com cocaína em Ponta Porã. Segundo a polícia, o condutor do veículo estava desempregado e não era funcionário da empresa de energia solar, sendo contratado apenas para fazer o transporte das placas.
Ainda de acordo com a polícia, os dois envolvidos possuem passagem policial por violação à Lei de Drogas e contam com mandados de prisão em aberto no Paraguai.
Dividida em tabletes, a droga estava marcada com símbolos, entre eles Bugatti, marca de carros de luxo e, Pacer, modelo de veículo retrô. Em meio à cocaína também foi encontrado um celular, que passará por perícia.
Na ocasião da apreensão, a delegada disse que, preliminarmente, não era possível afirmar que a empresa dona das placas solares fazia parte do esquema de tráfico de drogas.
REMESSA ILEGAL
Ainda nesta quarta-feira, a Polícia Federal prendeu em Campo Grande três suspeitos apontados como responsáveis pelo envio de drogas por meio dos Correios. As prisões foram realizadas durante a operação Remessa Ilegal.
Durante as investigações da PF, foram identificadas duas pessoas responsáveis pelo envio dos entorpecentes por meio das agências dos Correios na Capital. Conforme os policiais, foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva e um mandado de busca e apreensão. Além dos traficantes, uma terceira pessoa também foi presa.
Segundo os policiais, os traficantes usavam cartas e caixas para o envio das drogas. Os suspeitos foram encaminhados para a Superintendência da Polícia Federal em Campo Grande, onde seguem detidos. (Colaborou Leo Ribeiro)
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