Sexta, 26 de Julho de 2024
  • Sexta, 26 de Julho de 2024

Análise: Flamengo do "falso ponta" Gerson aproveita rival destemido e sonha com primeiro lugar

Destaque maior do time, com direito a menções honrosas a Everton Cebolinha e Pedro, Coringa só não participa em um dos quatro gols rubro-negros

GLOBOESPORTE.COM / FRED GOMES


Bolívar sobe a marcação e leva gol do Flamengo aos 56 segundos

"Esse time do Tite não goleia ninguém" é frase que permeia toda resenha a respeito do atual Flamengo. A atual temporada pode até atestar tal filosofia de boteco, mas quem resolveu encarar os rubro-negros de peito aberto? O Bolívar. O que aconteceu? Levou de 4 a 0 no Maracanã, e o prejuízo poderia ter sido maior. O Rubro-Negro prevaleceu com e sem a bola.

A vaga no mata-mata está bem encaminhada, mas o primeiro lugar é um sonho factível. Depende de uma vitória rubro-negra e uma derrota do Bolívar em La Paz.

Marcação alta no minuto inicial

Corajoso, o Bolívar subiu a marcação logo na saída de bola do Flamengo. Com cinco homens, fez duas investidas para roubar a bola e, apesar de uma retomada parcial, a resposta rubro-negra veio cedo. Rossi quebrou em Ayrton, que raspou, e Cebolinha pegou a defesa adversária desarmada. Tinha três pela frente, e a recomposição do brasileiro Bruno Sávio formou por milésimos um losango defensivo para tentar bloquear o 11 do Fla.

Não deu certo (veja no vídeo acima). Além desses quatro agrupados, dois tentaram pegar Pedro e deixaram Gerson, o "falso ponta" livre dentro da área. Completamente sozinho, o Coringa recebeu, dominou e marcou.

"Falso" porque no início da jogada ele já descera para aproveitar combate de Fabrício Bruno e entregar a Varela.

Bolívar prova do próprio veneno

Se a marcação alta do Bolívar soou como ousadia, não surpreende o Flamengo adiantar seu bloco. No segundo gol, os rubro-negros, que já mordiam desde o início, fizeram uma pressão inicial com Arrascaeta e Everton Cebolinha. Compactados, os rubro-negros tiveram perdas de posse parciais, e o "falso ponta" Gerson desceu até a linha do meio-campo para dialogar.

Ao observar que Cebolinha tinha um campo de visão aberto, Gerson abriu os braços, mas o camisa 11, que enfileirava tomadas de decisão acertadas, resolveu brigar pela bola, atrair a marcação e deixar Allan pronto para escolher o passe entre dois companheiros. O volante tocou em De la Cruz, e o Coringa deixou de ser "falso" para um verdadeiro ponta. Recebeu na direita, olhou para Arrascaeta e cruzou. Orihuela fez o corte parcial, mas com um Flamengo ofensivo e munido por sete atacantes, Ayrton Lucas vestiu-se de centroavante, aproveitou a sobra e deu boa margem no placar.

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A vaia e a imediata redenção

Aos 41 minutos e 13 segundos, embora Pedro fosse um dos pilares da marcação alta do Flamengo, ele acabou vaiado ao tentar encobrir Lampe após mais um passe do "falso ponta" Gerson. Aliás, vamos explicar logo essa expressão que se repete insistentemente no texto. Gerson é o Coringa, mas não é ponta e nunca foi. Sua movimentação contradiz isso. E o próprio Tite explicou.

- Posição e função são coisas diferentes. O Gerson é um articulador que faz também uma função de atacante, mas é essencialmente um jogador de meio-campo que chega na frente. Então, se você olhar em função (o esquema), é 4-4-2. O Cebola é mais agressivo, o Pedro é mais agressivo, e ele (Gerson) trabalha como um jogador de flutuação, é mais um jogador para ter bola, ter refino, ter jogada combinada e ter posse. E outra opção é ter um jogador vertical, que é o Luiz. O Gerson é a terceira vez que dá sequência com Nico. Parece que é tempo (risos). Nico por dentro e Gerson por fora talvez seja o terceiro ou quarto jogo. Essa engrenagem vai se moldando. É a primeira vez com Arrasca, talvez não tenha tido com Pulgar. A equipe vai encontrando seus links e suas formas de jogar.

Explicado o termo, vamos a um dos raros lances em que o tal "falso ponta" não participou. Aos 42 minutos e três segundos (escute no vídeo abaixo), Pedro recebe a primeira bola após a tentativa de encobrir Lampe e erra tentativa de jogada inicial. É vaiado. Cai, levanta e observa o primeiro combate de De la Cruz. Aproveita, recua e, no timing certo, rola para Everton Cebolinha fuzilar no cantinho.

Flutuante, Gerson entrega a Pedro no último gol

Prova maior de que tratar Gerson como ponta-direita é injusto é o quarto gol, o último da folgada vitória do Flamengo. No contra-ataque, o camisa 8 tabela com Arrascaeta, e sai da ponta para o meio apontando para De la Cruz onde gostaria de receber a bola. O uruguaio entrega, o Coringa parte para a esquerda, recebe e tenta a devolução de calcanhar, mas erra.

Em vez de voltar para a direita, por ali fica. A pressão do Flamengo no campo de ataque dá certo, Allan recupera e entrega a De la Cruz, que força o passe em Pedro. O camisa 9, com recurso, descasca o passe forte do uruguaio com um toque de calcanhar, amortece na coxa, deixa a bola para Gerson e abre como opção na área. Gerson dá um corte, Pedro disputa a bola com o marcador e se atira no chão para marcar. Gol de raça e talento.

Pedro faz o Vapo em homenagem ao companheiro, o dono do time na noite de quarta-feira. O "falso ponta" roubou seis bolas, deu assistência para Pedro, cruzou para o de Ayrton Lucas, acertou os dois dribles tentados e errou três passes de 39.

O restante do jogo nem precisa de muita explicação. Tite deu rodagem a Gabigol, Igor Jesus, Luiz Araújo e o aclamado Lorran.

Lorran começou querendo jogo, mas o time já estava em outra rotação. Luiz Araújo deu um bonito chute, Igor Jesus não comprometeu, e Gabigol mostrou ainda estar fora de ritmo. Não conseguiu dar opção e ainda tomou um cartão amarelo bobo, ao dar um empurrão em Bruno Sávio, que o derrubara com uma falta acima do tom.

Se faltou identidade recentemente em jogos de atuação discutível, Gerson, ídolo do clube e da torcida, dá provas de que esse Flamengo tem, sim, referências. Ele, Pedro e Everton Cebolinha, outra figura gigantesca na goleada sobre o Bolívar, surgem como espelhos em um Flamengo que se afasta cada vez mais daquele vitorioso time de 2019, mas que pode voltar a ser ser triunfante com outra cara.

O Flamengo fez valer o apoio que a torcida lhe deu antes do apito inicial. Aproveitou o poderio ofensivo que tem ao marcar com menos de um minuto e transformou o Maracanã em caldeirão com uma pressão quase que ininterrupta ao adversário. Falando em adversário, deu um aviso aos seus rivais que jogar de peito aberto contra o Flamengo não é bom negócio. Precisa agora dar resposta de que sabe também furar retrancas para reafirmar sua condição de favorito às principais competições em 2024.

"Feliz como um pinto no lixo, os ainda existentes arquibaldos e os extintos geraldinos" comemoram mais um chocolate do Flamengo de Washington Rodrigues, o eterno Apolinho, ídolo de grande parte dos jornalistas que ainda falam de futebol ou de esporte. Descanse em paz, Velho Apolo.

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