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Dono de fazenda apontada como ‘QG’ de pistoleiros que teriam atacado indígenas é pai da ‘Loira do PCC’
No dia 6 deste mês, a ministra dos povos indígenas esteve na área de conflito
MIDIAMAX/THATIANA MELO
Uma das áreas de conflito entre indígenas e fazendeiros em Douradina, a 195 quilômetros de Campo Grande pertence a Cleto Spessatto, de 74 anos, pai da ‘Loira do PCC’, Jacqueline Michelle Spessatto, denunciada pelo MPMS (Ministério Público Estadual) em 2019 depois da deflagração da operação Ying-Yang.
Spessatto e mais três fazendeiros são proprietários de cerca de 800 hectares na região de Douradina, o que ocupa 3º da área de reintegração reivindicada pelos indígenas. O fazendeiro também tem propriedades em Mato Grosso e Porto Murtinho.
No dia 6 deste mês, a ministra dos povos indígenas esteve na área de conflito. Equipe se reúne com indígenas na área de retomada a fim de apaziguar a situação, que tem resultado em vários feridos. Os indígenas cobraram a demarcação das terras indígenas na região.
‘Loira do PCC’
Jacqueline Michelle Spessatto, conhecida como ‘Loira do PCC’ ou ainda ‘Jack Madrinha’ foi alvo de uma operação em fevereiro de 2021, Yin- Yang que prendeu 48 membros da facção criminosa. Jacqueline era ligada a Edson Chaves de Brito, conhecido como ‘Malboro’.
As investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) identificaram 48 membros do PCC com as mais variadas funções na organização criminosa. Foram apontadas lideranças, integrantes responsáveis por tráfico de drogas, roubos, homicídios, por distribuição de dinheiro, batismo de novos membros, recolhimento das ‘rifas’, entre outros.
Edson seria responsável por comandar crimes como roubos, sequestros e homicídios, os chamados ‘Tribunais do Crime’ do PCC. Em uma ligação, ele chega a se gabar por ter ordenado 28 homicídios em dois meses. A partir dele, foram denunciados e, em junho de 2020, condenados Allyson Lemes de Freitas (6 anos em regime fechado), Edivaldo Gomes dos Santos (5 anos e 4 meses em regime fechado), Edson Chaves de Brito (6 anos e 8 meses em regime fechado e mais 4 anos em regime semiaberto), Jacqueline Michelle Spessato, a ‘Loira do PCC’ (4 anos e 8 meses em regime semiaberto), João Paulo Batista de Jesus (3 anos e 9 meses em regime aberto), Jonas da Silva Ferreira (6 anos em regime semiaberto), Ronielson Ferreira dos Santos, o ‘Cipriano’ (5 anos e 4 meses em regime fechado), Robson Chaves de Brito (3 anos em regime aberto).
Fazendeiro denunciado
Em 2016, o MPF (Ministério Público Federal) moveu uma ação de indenização contra Spessatto por pulverização de agrotóxicos contra área onde estavam os indígenas. O pedido de indenização foi de R$ 286 mil. Mas, a 1ª Vara da Justiça Federal de Dourados julgou o pedido improcedente.
O magistrado comparou o despejo de venenos agrícolas em idosos e crianças Guarani Kaiowá à exposição nas cidades ao “fumacê' contra o mosquito da dengue.
O histórico do fazendeiro ainda conta com uma multa em 2019 por desvio de um rio para o plantio de arroz, segundo o Canal do Observatório, De Olho nos Ruralistas. No dia 14 de julho, a fazenda dos irmãos Spessatto foi alvo de retomada dos indígenas. Durante os conflitos indígenas acabaram feridos a tiros por pistoleiros mantidos pelos fazendeiros nas áreas de conflito.
O Jornal Midiamax tentou entrar em contato com a defesa dos irmãos Spessatto, mas não obtivemos resposta. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
Conflitos indígenas
Conflitos em disputa da terra entre indígenas e proprietários rurais da região ocorreram há cerca de 20 dias na TI (Terra Indígena) Panambi – Lagoa Rica, em Douradina. Neste período, há registro de indígenas feridos, atirador preso pela Força Nacional e outra equipe ministerial no local.
No local, fazendeiros e indígenas montaram acampamento na terra de retomada. A Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica é uma terra oficialmente reconhecida, identificada e delimitada com 12,1 mil hectares desde 2011. Seu processo de demarcação, contudo, está paralisado por conta de medidas que tentam instituir a tese do Marco Temporal.
A atual vigência da Lei 14.701, que institui a tese do marco temporal, e a morosidade do Estado tem gerado o sentimento de revolta nos povos originários. Eles denunciam ataques com arma de fogo e indígenas feridos. Na área estão acampadas 126 famílias, com 18 idosos, 70 crianças (incluindo bebês) e 50 jovens menores de idade.