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Resenha com CR7, xodó de Jorge Jesus e Neymar "mentor": por que Malcom está em casa na Arábia
Ex-Corinthians, atacante do Al-Hilal sofre com calor no início, mas se adapta a liga cheia de estrelas, quer seguir carreira por lá e terminar onde tudo começou: "Sempre torcendo pelo Coringão"
GLOBOESPORTE.COM / LORENA ORTEGA*
Formado no Terrão, Malcom começou a sua trajetória na base do Corinthians, onde ficou dos 10 aos 16 anos. Profissionalmente, foram mais dois anos jogando pelo Timão. Depois disso, passou a rodar cedo pelo mundo. Desde que saiu do time alvinegro, em 2016, passou por Bordeaux, Barcelona, Zenit e Al-Hilal, seu atual clube, da Arábia Saudita.
São 24 gols em 50 jogos pelo time saudita. Ao que tudo indica, a adaptação foi boa, não só dentro de campo.
– Estou muito feliz e minha família também. Aqui eu me sinto no Brasil, está sempre quente, os árabes do meu time são super receptivos, super gente boa, então para mim foi super fácil a adaptação, como eu sou brincalhão acabo enturmando fácil – disse Malcom, ao ge.
O jogador disse achar o futebol saudita parecido com o brasileiro, com muitos árabes “bons de bola'. Além disso, o fator clima entra na conta.
– Sempre está calor, um mormaço, umidade lá em cima. Então você tem que se preparar bem para o jogo, tomar bastante água, às vezes nos últimos dez minutos o jogo muda totalmente.
A ida ao clube da Arábia vai muito além de dinheiro. Malcom comentou que a mentalidade de vencer e não se acomodar é constante. Seguir ganhando no Al-Hilal como fez no Zenit, Barcelona e Corinthians é o foco da carreira.
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Jorge Jesus, o Mister
Assim como o jogador, Jorge Jesus também é movido pela vontade de vencer. Seu comportamento impulsivo e energético se tornou uma grande motivação para o time.
Isso tudo dentro das quatro linhas. Fora, o técnico português se transforma. O Mister, como o chamam, é um personagem. No bom sentido, claro.
– Ele tem um coração enorme, então está sendo fantástico trabalhar com ele esse tempo que eu estou aqui.
Em clássico disputado contra o Al Ahli, que terminou 2 a 1 para o Al-Hilal, Malcom foi o autor do gol da virada. Assim como as tradicionais reações do treinador durante a partida, a comemoração da vitória é feita à altura. Jorge Jesus chegou a carregar o atacante no colo.
Desde o primeiro dia, resenha é o que não falta. Quando Malcom chegou ao time, o ex-técnico do Flamengo o questionou sobre sua posição, que até então era ponta direita. Não era isso que Jesus tinha em mente.
– Ele falou: “você vai jogar por dentro aqui'. Não tem problema, mas eu nunca fiz isso, eu nunca joguei assim nessa posição, mas se treinar, beleza. Ele: "Então a gente vai treinar'.
Dito e feito. Foram treinar. Começaram com a posse de bola e depois a finalização. Assim veio a primeira bronca, no melhor estilo Jorge Jesus.
– A bola veio, eu errei o domínio. Errei o domínio, mas já dei continuidade. Aí ele parou, me olhou e disse: "Você não é brasileiro. Com esse domínio você é venezuelano ou do Bahrein'.
Malcom fez de novo. Acertou. Brasileiro.
– Eu estava chorando de rir por dentro, porque ele age super natural, ele faz muito sarro.
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Ney adulto e "mentor"
Por causa de encontros na seleção brasileira, Neymar é um velho conhecido de Malcom. Para o atacante, acrescentar o jogador na equipe é importante para sonharem com conquistas ainda maiores.
– Ele já está super adaptado ao grupo, todo mundo gosta dele, todo mundo está dando forças para ele voltar forte.
Para ajudar na recuperação, a equipe costuma comparecer e dar apoio quando ele está treinando.
De acordo com o técnico do Al-Hilal, o camisa 10 aparenta estar mais feliz agora do que quando chegou na Arábia. Sabe o que é isso? “Saudade de pegar na bola, de fazer o que eu mais gosto'.
A vontade de estar em campo é o que não falta.
– O Ney pegou a bola, começou a fazer embaixadinha, aí o Mr falou: “você já pode jogar', e ele respondeu: “Mr, eu estou quase pronto'.
Ver o Neymar indo aos jogos, ajudando o time, torcendo e se dedicando para poder voltar é o que motiva os jogadores. O craque faz até o papel de "mentor", dando conselhos aos mais novos, incluindo Malcom.
A torcida saudita
Apaixonada por futebol, a torcida do Al-Hilal conquistou Malcom colorindo os estádios com seus mosaicos azuis em todos os jogos.
– Eles nos apoiam do começo ao fim, inclusive só agradecer a eles mesmo, porque comparecem ao estádio, sempre cheio, mesmo se vamos jogar fora.
Apesar da paixão mútua pelo mundo da bola, não há nada igual aos brasileiros.
– Nada parecido. Os árabes vão falar, vão vaiar, mas depois é só fazer gol e ganhar o jogo que está tudo certo. Nada desse tipo de invadir CT, de ir no aeroporto e xingar jogador.
Impressionado pelo envolvimento do país com o esporte e a compreensão dos torcedores com a vida dos jogadores para além do futebol, Malcom conta que isso é fundamental para o bom desempenho dentro de campo.
– Se vai no restaurante, se vai tomar café, aqui eles reconhecem, porque eles assistem ao futebol, eles vivem o futebol aqui.
Enfrentando CR7
Al-Hilal e Al-Nassr já se enfrentaram cinco vezes desde que o atacante passou a jogar na Arábia Saudita. Os clássicos costumam colocar Malcom frente a frente com o craque Cristiano Ronaldo.
Como já teve muito contato com jogadores brasileiros, o "Robozão" ficou experiente no linguajar e comportamentos dos atletas e passou a ser mais um nas conversas.
Não fez gol. E o Al-Hilal venceu por 3 a 0.
E o Timão?
Mesmo de longe, Malcom acompanha os jogos do clube que o revelou para o futebol e contou que até manda mensagens de incentivo para os amigos.
– Todo mundo sabe que eu sou corintiano, parece que eu sou 12° jogador ali torcendo. O momento não é tão bom, mas daqui a um tempo vai voltar a ser o Corinthians que todo mundo conhece, vencedor, e eu também torço por isso, sempre torcendo pelo nosso Coringão.
A família não fica para trás. Mesmo com a saída de Malcom, frequenta o estádio até hoje. Todos são corintianos roxos. E, claro, querem que o atacante termine a carreira no time alvinegro.
*Colaborou sob supervisão de Diego Ribeiro