Quinta, 03 de Outubro de 2024
  • Quinta, 03 de Outubro de 2024

Filtro solar: tudo o que você precisa saber na hora de comprar e usar

Com a chegada do verão, aumenta a importância da aplicação correta e frequente do produto como forma de evitar queimaduras, envelhecimento, manchas e câncer de pele

R7 / SAúDE | FERNANDO MELLIS, DO R7


Ambientes como praia e piscina exigem ainda mais atenção sobre uso de protetor solar - Freepik

A exposição ao sol — especialmente agora durante o verão — sem a proteção adequada da pele pode causar danos imediatos, como queimaduras, ou de longo prazo, como câncer. Por isso é fundamental reforçar nesta época do ano a importância do uso correto do filtro solar.

Durante todo o ano, o Brasil tem alta incidência de radiação UV (ultravioleta), que, obviamente, se intensifica no verão, podendo chegar a níveis perigosos.

O Inca (Instituto Nacional de Câncer) estima que de 2023 a 2025, serão registrados no Brasil 9.000 novos casos de câncer de pele do tipo melanoma, o mais agressivo, além de 220 mil casos de câncer não melanoma. 

Queimaduras de sol ao longo da vida aumentam significativamente o risco desses tipos de tumor no futuro, além de causarem o envelhecimento da pele e manchas. 

A prevenção envolve o uso de filtro solar sempre que se estiver ao ar livre, especialmente em ambientes como praia e piscina, e a exposição ao sol de forma comedida.

'Existe uma falsa ideia de que o câncer de pele é um cancerzinho, mas não é. O melanoma tem índices de letalidade razoavelmente altos. E os outros, apesar de não serem tão letais, têm o que a gente chama de alta morbidade. Desfiguram as pessoas, e é preciso fazer cirurgias que muitas vezes as deixam esteticamente disfuncionais porque não se cuidaram. A fotoproteção é um fator-chave para evitar o câncer de pele', alerta o médico Sérgio Schalka, especialista da SBD e coordenador do Consenso Brasileiro de Fotoproteção.

No Brasil, produtos com a denominação 'bloqueador solar' não são mais autorizados a ser vendidos, explica Schalka.

'Bloqueador solar dava uma ideia de bloqueio total da radiação solar, o que não acontece com nenhum produto.'

Os termos admitidos são: protetor solar, filtro solar ou fotoprotetor, que acabam sendo sinônimos, sem que haja diferença no fator de proteção.

Toda embalagem de protetor solar vem com um número, que é o FPS (fator de proteção solar). Trata-se de um denominador obtido após um cálculo. 

A equação divide a quantidade de energia solar (radiação ultravioleta) necessária para produzir queimaduras solares na pele protegida (ou seja, na presença de filtro solar) em relação à quantidade de energia solar necessária para produzir queimaduras solares na pele desprotegida.

Em termos práticos, um FPS elevado garante uma proteção maior do que um FPS baixo. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autoriza que esses produtos variem entre FPS 6 e FPS 99.

'Por causa dos vários fatores que afetam a quantidade de radiação solar, o FPS não reflete o tempo ao sol. Em outras palavras, o FPS não informa o consumidor sobre o tempo que pode passar ao sol sem sofrer queimaduras', destaca a FDA (agência controladora de medicamentos e alimentos dos EUA).

Schalka ressalta que a SBD e o Consenso Brasileiro de Fotoproteção preconizam que o FPS seja no mínimo 30 (entenda o motivo no próximo tópico).

Algumas variáveis precisam ser consideradas na hora de escolher o protetor:

• O tipo de pele da pessoa: indivíduos com pele clara vão precisar de um fator de proteção mais elevado. Quem tem uma pele morena pode optar por um FPS próximo de 30.

• Quanto tempo a pessoa vai permanecer no sol: longos dias de praia vão exigir um fator de proteção mais robusto, diferentemente do uso no dia a dia, em que ficamos menos tempos expostos à radiação ultravioleta intensa.

• A hora do dia em que a exposição ao sol ocorre: segundo a FDA, a energia solar que incide sobre a pele durante uma hora às 9h é a mesma de 15 minutos no sol do meio-dia.

• O tempo de reaplicação: o especialista da SBD diz que o ideal, em um dia de praia ou piscina, é passar o protetor a cada duas ou três horas ou após muitos minutos dentro da água, já que até mesmo os produtos resistentes à água têm limitações quando ficamos muito tempo submersos.

• A quantidade de produto usada: este fator, segundo Schalka, é o que mais vai interferir positiva ou negativamente na efetividade do protetor solar.

'As pessoas não aplicam protetor da forma perfeita, como ele deveria ser usado. Quando você compra um protetor de FPS 30, ele não vai entregar os 30 se você não usá-lo do jeito adequado, tem uma perda disso', observa o dermatologista.

Ele concluiu, em uma tese de pós-graduação, que o ideal para uma pessoa obter a proteção oferecida na embalagem é usar 2 mg/cm² de pele do creme ou loção.

'Isso representa, na prática, em média, de 35 g a 40 g para uma pessoa de 70 kg. É bastante, as pessoas não fazem nem de longe.' 

Seria o mesmo que usar de uma única vez um terço de um frasco de protetor solar de 120 ml.

Caso se aplique metade, 1 g/cm², o que ainda é bastante, um FPS 30 se torna o equivalente a um FPS 10.

Como praticamente ninguém faz isso, existe a recomendação de um FPS mais elevado para alguns tipos de pele e reaplicações sempre que possível.

Creme, gel creme, sérum, spray... As formas de apresentação dos filtros solares são diversas, inclusive algumas focadas no rosto ou no corpo, acrescenta o dermatologista.

'Normalmente, o protetor para o rosto tem que ter uma cosmética mais elaborada. O brasileiro tem pele mais oleosa, então são produtos mais sequinhos, que não deixam muito brilho, grudento. Portanto, pode ter um perfil de espalhabilidade diferente. Para o corpo, o produto ideal é aquele que seja mais fácil de espalhar, porque tem mais área, que consiga cobrir melhor áreas com pelos.'

Ele ressalta que o ingrediente que protege a pele, todavia, é o mesmo em todos eles. A diferença vai ser sensorial, na forma de aplicar e como a pele fica após o uso.

No caso do spray, o médico pondera que ele também tem o mesmo fator dos cremes, mas, se for aplicado em pouca quantidade, vai oferecer uma proteção menor.

'Se a pessoa fizer a aplicação ideal, tem que aplicar como se estivesse pichando uma parede, em ziguezague. Para economizar, as pessoas dão umas poucas borrifadas e espalham com a mão. Isso perde a formação daquela película. Ele acaba funcionando pior por conta de as pessoas não aplicarem da forma perfeita.'

A sugestão de Schalka é que se use um protetor em creme antes de sair para ir à praia ou à piscina no corpo inteiro, já com a roupa de banho ou nu.

'Passe uma camada generosa de protetor solar. Você já começa bem protegido. E aí, na praia, onde é mais difícil passar creme, gruda na areia e aquela coisa toda, um spray funciona bem para essa reaplicação.'

Outro uso indicado do spray é para o couro cabeludo, principalmente em quem tem pouco cabelo. O médico adverte que essa é uma área frequentemente esquecida e na qual é comum aparecerem alguns tumores de pele.

'O creme vai deixar o cabelo melecado, e a pessoa não vai gostar. O spray não é perfeito, deixa um pouco craquelento, mas dá uma disfarçada depois que seca. E eu sempre reforço para usar boné. As duas coisas, porque, na hora que [a pessoa] vai dar um mergulho no mar e tira o boné, tem o protetor lá para ajudar.'

Além do couro cabeludo, os lábios são outro local do corpo que muita gente não se preocupa em proteger.

'Não é porque o lábio não queima que não está propenso a ter problema', adverte o médico, ressaltando que um problema que pode ocorrer é a queilite actínica, um tipo de degeneração da pele do lábio pelo sol que predispõe ao câncer de pele.

A proteção pode ser feita com o mesmo produto usado para o rosto ou para o corpo. Porém, para evitar o gosto do protetor na boca, existem bastões com filtro solar que cumprem essa função.

Embora sejam vendidas na Europa há algumas décadas, as cápsulas para proteção contra os danos causados pelos raios ultravioleta são relativamente novas no Brasil.

Esse tipo de produto é produzido a partir de uma planta, a Polypodium leucotomos, que tem a capacidade de reduzir os danos da radiação que ainda consegue ultrapassar a barreira do filtro solar e agride o DNA das células, gera radicais livres e interfere nas defesas da pele.

'É um mecanismo de proteção secundário, nunca deve ser usado exclusivamente. Tem que ser usado em combinação com protetor solar tópico. A pessoas com pele sensível, muito claras, histórico de câncer de pele dela ou na família, problemas de manchas de envelhecimento, a gente recomenda no consultório associar esse produto ao protetor solar tópico', acrescenta o dermatologista.

Por fim, cabe ressaltar que os cuidados com a proteção da pele não devem ser uma exclusividade dos dias de verão.

'Protetor solar é um produto que não é barato, por vários motivos, mas é um produto de saúde, não é só bem-estar, antienvelhecimento', enfatiza Schalka.

Segundo ele, estudos mostram que cerca de 70% da radiação que tomamos durante a vida são de atividades rotineiras.

'No dia a dia [você] pode usar um produto com um FPS um pouco menor. Não vai passar em uma área em que está com roupa, mas no rosto, especialmente, a gente recomenda passar pelo menos de manhã e reforçar na hora do almoço. Isso já dá um ganho de proteção expressivo no decorrer dos anos. As mulheres já se adaptaram mais a isso porque elas colocam o protetor solar diário em uma rotina de cuidados do dia a dia. Mas, para a maioria dos homens, isso ainda tem mais resistência', finaliza.

*Reportagem publicada originalmente em 21/12/2021

Dezembro Laranja: conheça mitos e verdades sobre o câncer de pele

O mês de dezembro é marcado pela prevenção ao câncer mais incidente no Brasil, o de pele. O tipo mais frequente no país é o carcinoma basocelular, considerado pouco agressivo, seguido do carcinoma espinocelular (não tão agressivo, mas que pode evoluir para metástase) e do melanoma — origina-se nas pintas e é o mais perigoso. Para ter um tratamento curativo e mais simples em qualquer um dos casos, o indivíduo deve estar atento aos primeiros sinais da doença. No caso dos carcinomas basocelular e espinocelular, há lesões avermelhadas e elevadas que parecem verrugas e espinhas, mas não coçam nem doem.  O melanoma, por sua vez, deixa a pinta com formato irregular e com múltiplas cores, e pode coçar, machucar e sangrar. Estar atento a esses sinais é essencial, mas as pessoas também devem conhecer o que é mito ou verdade sobre a doença

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Pessoas de pele clara têm mais risco de ter câncer de pele? VERDADE A melanina, pigmento responsável por dar cor à pele e aos pelos, protege as células contra os danos causados pelos raios ultravioleta do sol. As pessoas de pele clara, no entanto, têm menos melanina do que as de pele negra, situação que aumenta a sua vulnerabilidade.  'Quem tem mais melanina tem uma maior proteção natural contra o câncer de pele. Mas mesmo pessoas de pele negra precisam manter a proteção solar, pois o câncer de pele pode acometer todas', alerta o dermatologista oncológico Denis Miyashiro, do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Oswaldo Cruz

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Câncer de pele é mais incidente em mulheres? MITO Apesar de as mulheres formarem a maioria do público que compartilha as experiências e as formas de prevenção relacionadas à doença, os homens sofrem mais com o câncer de pele. Isso ocorre principalmente, segundo Denis, em razão dos hábitos de exposição solar desse público. 'Homens aderem menos às medidas de proteção solar, como o uso de filtros solares e a proteção física com guarda-sol e roupas. [Também] têm exposição solar maior em alguns tipos de emprego, principalmente trabalhos rurais', conta o dermatologista

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Exposição solar aumenta o risco de câncer de pele? VERDADE A exposição solar sem proteção adequada ou em períodos do dia em que os raios ultravioleta são mais intensos, como das 10h às 15h, aumenta a chance de a pessoa desenvolver câncer de pele. Segundo Miyashiro, isso acontece porque a exposição 'causa danos nas células da pele que, ao longo do tempo, podem sofrer transformação maligna'

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Apenas a exposição solar causa câncer de pele? MITO Apesar de a maioria dos casos da doença estar relacionada à exposição solar, ela também pode acontecer devido a outros fatores, como alterações no sistema imunológico — causados por outras doenças —, uso de medicamentos imunossupressores e feridas crônicas, por exemplo.  De acordo com o Oncoguia, a doença também pode estar ligada a fatores genéticos, já que cerca de 10% das pessoas com melanoma têm um histórico familiar de casos de câncer de pele

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Utilizar cremes bronzeadores aumenta o risco de câncer de pele? VERDADE Os cremes bronzeadores são usados para potencializar a ação do sol e aumentar a pigmentação da pele. O produto em si não causa câncer de pele, mas a forma como ele é usado pode se tornar danosa.  'Quando se utiliza esse tipo de creme, a pessoa acaba se expondo mais ao sol sem a proteção adequada. E é essa exposição que aumenta o risco', explica Miyashiro. Ainda segundo orientações do A.C. Camargo Cancer Center, o bronzeador é comumente aplicado por cima do protetor solar, o que impede que raios solares sejam filtrados

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Melasma pode virar câncer? MITO O melasma é uma condição que desencadeia um maior acúmulo de melanina na pele, o que leva à aparição de manchas. No entanto, essas manchas não se transformam em câncer de pele. 'Tanto o melasma quanto o câncer de pele podem ser causados pela exposição solar excessiva sem a proteção adequada, mas são condições diferentes', relata Miyashiro

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O guarda-sol e o guarda-chuva protegem contra o câncer de pele? VERDADE Ambos os produtos protegem a pessoa contra a exposição solar direta, portanto previnem essa doença. No entanto, a luz ultravioleta é refletida nas superfícies e pode atingir a pele. 'Por isso, é fundamental o uso do filtro solar. Isso [também] vale para chapéus e bonés. Esses acessórios protegem apenas parcialmente contra a luz solar', diz o dermatologista

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Protetor solar não precisa ser usado em dias nublados ou quando estou na sombra? MITO Para Miyashiro, esse é um 'dos maiores erros' cometidos pelas pessoas. O protetor solar deve sempre ser utilizado, independentemente se o sol está em evidência ou não.  'A radiação ultravioleta atravessa as nuvens. Por isso dizemos que o mormaço também queima. E a radiação ultravioleta se reflete nas superfícies, podendo atingir a pele mesmo na sombra', finaliza o dermatologista * Estagiária do R7, sob supervisão de Fernando Mellis

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